Ontem (Hoje não)

Tempo sem fim, gasto entre quatro paredes que cheiram a sono, a frio, a "pessoa" e a tempo, tudo desperdiçado em cinco minutos de pura coincidência e ausência de mim. Gostava de pensar que tudo podia fazer parte de um plano maior. Daqueles em que no fim se pode dizer que B só aconteceu porque A aconteceu antes. Mas já não acredito que seja assim. E porque é que havia de acreditar?


Eu podia escrever que há pessoas que fazem com que a nossa existência pareça ter algum sentido. Um daqueles sentidos maiores. Uma mensagem, um olá, uma companhia pro almoço. A velhinha que vi levar o lanche ao marido que jogava xadrez com os amigos, num jardim de Lisboa, numa tarde cinzenta. Quem me dera ser essa velhinha! Uma senhora olhou-me com ar estranho - casaco azul, ar aluado, máquina fotográfica e olhos vermelhos. A andar a pé para lado nenhum. A cantar sem ninguém ouvir. A falar com alguém que não estava mesmo ali. Eu.

Mas às vezes tudo aquilo que queria escrever já alguém escreveu antes.

Há pessoas assim. Que parece que sentem o mesmo que nós, mesmo que não seja pelo mesmo motivo. Fazem-nos sentir que talvez seja normal não ser normal.



1 comentários:

. disse...

e o que é ser normal ?