SDDN (sim, para variar)
Num claro ataque de SDDN pus-me a pensar em ti.
Não como antes pensava em ti. Há coisas que passam, ficam lá atrás. Daquelas que às vezes vamos buscar a caixinha mágica para ver fotografias e recordar a bolha que era o nosso mundo. O plástico com buracos que tapava o vidro de trás da carrinha fechada que à noite eram as nossas estrelas, quando a luz dos candeeiros sós das ruas batiam na carrinha aos saltos (não sei como nunca ninguém se magoou lá atrás). Lembrei-me das mãos, da intimidade, do eterno prometer de fotografias Benetton, da confiança insegura, do querer estar sempre mais perto quando estávamos mais perto que aquilo que é possível estar. Porque faltou sempre qualquer coisa. Suponho que fosse o futuro. Esse que acabou por nos apanhar. Por rebentar a nossa bolhinha. Não podemos culpá-lo de tudo, claro. Podíamos, em tantas alturas, tentar ter sido mais fortes. Mas a bolha já estava demasiado fraca. Acho que nem eu, nem tu, vamos um dia encontrar alguém com quem ter a bolha que nós tivemos. Mas espero que sim. Espero mesmo que sim. Não olho para trás com pena do que aconteceu, nem com o desejo de regressar atrás. Há coisas que ficam realmente lá. E são mágicas por isso. Ficam lá. Cercadas pelo nosso mar. As bolhas não sobrevivem nas grandes cidades, sabias? Há sempre um carro a passar que a destrói, uma criança mimada que a quer rebentar, alguém que a quer vender ou roubar de nós, ou não há simplesmente sabão nas cidades. Não. Eu olho para trás a pensar que queria ter, agora, uma bolha como a que nós tivemos. Não contigo. Ou talvez sim, se estivesses aqui. (É confuso saber que a distância é uma coisa mais poderosa do que aquilo que admitimos que é. Mas o sabão não estica até ao infinito.) Mas não, tenho de ser honesta, não. Não agora. Talvez com quem só eu sei. Não sei. Talvez. Sim, claro que sim. Mas também é claro que tenho de novamente esquecer. Ninguém faz de novo uma bolha que sabe que não vai voar. O futuro ia rebentá-la outra vez. Outra vez. Outra vez.
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