"Ai que se me arrepelam as raízes da alma!"


Começou com a personagem. Com o respeito, as bençãos e o poder, com a idade. Depois vieram as dores de costas, de garganta, de cotovelo, do orgulho. O transformar. Deixou de ser personagem, passou a ser só uma casca. Um simples casaco que se vestia e se usava sabendo que estava vestido porque a etiqueta cismava em arranhar, dar comichão e dar vontade de a arrancar com as unhas e com os dentes. Aquela vontade de deitar fora e o esquecer.
De seguida foi o uso, foi o gastar, foi o fazer habituar. Foi o escolher daquele calçado para a grande caminhada, mesmo que não fosse calçado de caminhada e que a chuva os fosse molhar. Não era importante. É possível andar com sapatos de pano à chuva: basta ter pés. Eram os meus sapatos. Meus.
Aqui voltou a personagem. Mas ela existia numa só cor e eu precisava de tons. Existia num presente e eu precisava do passado desconhecido. Precisava do novo que vem sempre antes do velho. Que o molda. Então tive de a abrir, fazer o primeiro corte e levantar a pele, separar a inexistente gordura do encolher do tempo e cuidadosamente os músculos já cansados se afastaram para eu a ver. O que eu vi...

Foram assim os meus 3 meses nessa aldeia.

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