O não escrever
Não escrevo há tanto tempo. Aquele escrever de encher páginas e páginas. Não rasguei as que tinha escrito, mas deixei-as ao abandono. Naquele lugar para onde vai tudo aquilo que não é de agora. É quase como se todos os pedidos vazios em páginas branco-amarelas dos cadernos de sempre me tivessem traído. Como se tudo tivesse sido em vão. Como se me fizesse mais mal que bem. Hei-de lá voltar, quem sabe. Quando voltar também ao tempo em que escrever lá antes de adormecer à luz do candeeiro azul voltar a fazer sentido.
A razão para começar a escrever lá foi pela incerteza certa de que um dia me vou esquecer de tudo. Mas escrever porquê? Se na maior parte das vezes o que eu quero é esquecer? Se na maior parte das vezes, escrevo a parte de mim que me queria esquecer?
Onde se esconderam as palavras? Porque é que já não fazem sentido?
Porque está lá aquele recorte, os sentimentos, tudo e tudo dos piores dias da minha vida?
Talvez. Talvez só porque não faz sentido querer deixar para recordar porque não faz sentido recordar. Mas será que não faz?
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